NAS REDES SOCIAIS, A MILITÂNCIA É STATUS
- elisaromeraf
- 21 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Como discursos de ativismo narcisista se tornaram padrão de luta social.
Por Elisa Romera de Freitas
A internet possibilita o compartilhamento massificado e globalizado de informações, independente de sua veracidade ou origem, criando tendências narrativas || Foto: Reprodução/Unsplash
Com a tão repercutida “deslegitimação da shippada”, os polêmicos discursos militantes de Lumena Aleluia marcaram a vigésima primeira edição do reality show “Big Brother Brasil”, estreada no dia 25 de Janeiro deste ano.
A participante, já eliminada, se tornou uma sátira frente aos olhos do público que, nela, observavam estereótipos do ativismo agressivo, tão criticado pela oposição à esquerda progressista.
Seu comportamento extremamente academicista e hostil desencadeou discussões acerca da efetividade de suas falas. Então, seria Lumena uma real militante?
Para responder essa questão, Keit Lima explica, em uma coluna para o Ecoa, a definição de ativismo militante:
“Entender as dinâmicas e perversidades do racismo, classicismo e machismo não faz de ninguém militante. Militância é estar comprometido com uma determinada causa, de forma consciente e ativa na teoria e na prática. É uma organização para a transformação do mundo”
Lumena foi uma das participantes com maior rejeição do público durante sua estadia na casa do Big Brother Brasil, sendo alvo de diversos ataques || Foto: Reprodução/TV Globo
A postura de Lumena, orgulhosa, ao apontar uma verdade como única e irrefutável, abdica de uma das práticas principais de compromisso com um movimento social: a de propagar suas narrativas de maneira convincente e didática, para fortalecer sua própria luta.
“Desconstruir é um processo de deslocar os sistemas de pensar, permitindo que eles estejam abertos, que não se enclausurem em verdades violentas […] Desconstruir é, pois, uma prática de alteridade também, e não a imposição de uma nova verdade violenta em substituição às antigas”, explica a atriz e dramaturga, Helena Vieira, ao escrever para o Blogueiras Feministas.
Vieira trouxe em pauta o que chamamos de “ativismo narcisista”, que é exemplificado com esplendor por Lumena Aleluia, personagem que, devido a diversas falas transmitidas pelo programa da Rede Globo, demonstra seus posicionamentos como um dever e como parte notória de sua personalidade.
O NARCISISMO ENVENENA A MILITÂNCIA
A militância mencionada pela atriz é adotada como um estilo de vida em meio a internet. Com discursos rasos e perigosos, afirmações quase que autoritárias são mascaradas de discursos de luta, tudo visando obter o imaginário sentimento de justiça do qual seus autores usufruem.
Para Vieira, “A marca do ativismo narcisista é atacar tudo: não há desconstrução, mas destruição”
A pós-modernidade trouxe consigo a desvalorização do conhecimento e, assim, criou uma ilusão de conhecimento generalizado entre as pessoas que, com o advento da internet, compartilham massivamente informações pouco fundamentadas|| Foto: Reprodução/Unsplash
Enquanto uma decorrência da pós-verdade e do desejo pelo imediatismo, a tendência a adoção desse comportamento massivo atua como uma auto-sabotagem da militância que, assim, oferece armas para a oposição atacá-la e perpetuar as situações que exigem sua luta.
As narrativas de Lumena são produtos da mesma comunidade que a criticava quando estava dentro do programa. A imensa rejeição e impaciência dos telespectadores nas redes sociais demonstram a volatilidade dos discursos que, sem embasamento teórico, são movidos apenas pela popularidade momentânea. Afinal, sua luta é em busca de seu próprio status social.
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