Educação em tempos de pandemia: Aulas presenciais nas escolas de Bauru estão suspensas até o fim do ano
- elisaromeraf
- 21 de jun. de 2024
- 5 min de leitura
Após decisão municipal, moradores do Jardim Nicéia compartilham a atual realidade do ensino à distância.
Por Beatriz Miano Christianini, Elisa Romera de Freitas e Gabriela Armelin
As salas de aula permanecerão vazias até o fim deste ano. Foto/Reprodução: Agência de reportagem
No dia 3 de outubro, o prefeito Clodoaldo Gazzetta, junto aos demais participantes do Pacto Regional, optou por não aderir ao retorno às aulas nas escolas públicas e particulares este ano em Bauru. As aulas presenciais foram adiadas para 2021, e a decisão coletiva também se aplica às demais 42 cidades da região.
A previsão estadual para a volta às salas de aula era para o dia 7 de outubro deste ano. No entanto, os municípios ganharam autonomia em suas abordagens quanto ao isolamento social e, por isso, ao analisar as questões epidemiológicas enfrentadas na cidade e região, Bauru não segue a retomada determinada pelo Estado de São Paulo.
Em entrevista concedida ao Voz do Nicéia, Isabel Cristina Miziara, secretária Municipal da Educação, explica que as decisões em relação às aulas presenciais foram norteadas pelos dados epidemiológicos de cada cidade e que, mesmo sendo potencialmente impopulares, levaram à preservação da saúde de suas respectivas populações.
Para as universidades e escolas técnicas, a situação é diferente. Nelas, as aulas são permitidas para ensino prático e laboratorial caso haja a apresentação de novos conteúdos, porém, seguindo restrições.
As escolas particulares, por outro lado, permanecem com a autorização do poder municipal para a adoção optativa das atividades de acolhimento e reforço desde o dia 21 de setembro. Nesses casos, as escolas devem seguir um manual de biossegurança elaborado pela Secretaria da Saúde, que estipula todas as medidas protetivas necessárias para a profilaxia da doença, como, por exemplo, a limitação de alunos por ambiente.
As instituições públicas de ensino do município também receberam um manual de orientações técnicas para o retorno das aulas presenciais. Porém, como não há previsão de retorno, ainda não se sabe quais medidas preventivas serão adotadas em 2021.
Segundo Miziara, a Secretaria da Saúde pretende, no momento, criar um planejamento para orientar a diretoria das escolas públicas por meio de um vídeo explicativo do documento de biossegurança. “O vídeo vai traduzir em miúdos o protocolo de biossegurança, porque nada como a gente ler um documento, mas, se tem alguém explicando, a coisa flui com mais facilidade”, explica.
A secretária de Educação lembra que a abordagem municipal quanto às escolas públicas e a volta às aulas depende das eleições para prefeito que ocorrerão neste ano. “Temos que pensar em dois cenários para o próximo ano: o de 35% de alunos com retorno às aulas presenciais e os demais no modelo remoto, ou a totalidade dos alunos. Em fevereiro, com a retomada do ano letivo, nós não sabemos que cenário teremos e quem será o prefeito de Bauru”.
Para o atual prefeito, o retorno presencial deve ocorrer somente após a aprovação de uma vacina em 2021, além de permanecer opcional para o responsável do aluno, caso haja preferência pelo ensino remoto.
Nos últimos meses, pesquisas foram realizadas para compreender o posicionamento
público quanto à volta às aulas em Bauru. Em setembro, a prefeitura da cidade promoveu uma pesquisa, que foi disponibilizada em seu site para toda a população. Esse questionário abrangeu a rede pública e privada de ensino, assim como o ensino básico e o superior.
Outra pesquisa foi elaborada pela Secretaria de Educação de Bauru e enviada apenas para as escolas municipais, a fim de descobrir a opinião da parcela populacional que usufrui diretamente desse serviço. O questionário foi compartilhado nas redes sociais das escolas para que os pais e responsáveis tivessem acesso.
Entre os quatro pais do Jardim Nicéia entrevistados para esta reportagem, somente uma mãe afirma ter recebido o questionário por meio dos professores. Os demais responsáveis relatam não terem conhecimento sobre as pesquisas. “Fiquei sabendo agora por você”, comenta André Luis Pires, pai de quatro filhos.
Quanto ao ensino remoto, moradores do Jardim Nicéia relatam os desafios para conciliar as atividades diárias, o trabalho e a presença constante dos filhos em casa.
É o caso de uma mãe de 25 anos, que trabalha na Paschoalotto em Bauru e está com seu filho de 3 anos em isolamento social. Para ela, diante da falta de uma rede de apoio, como, por exemplo, a creche do bairro, sua única opção é o home office. “Se a empresa falar hoje: ‘você tem que ir trabalhar na empresa’, eu não tenho com quem deixar o meu filho. Minha mãe trabalha, minha sogra mora no sítio”, lamenta a moradora, que preferiu não se identificar.
Ana Claudia Pereira Candido, 30 anos, mãe de 4 filhos, também enfrenta dificuldades para auxiliar as crianças com as atividades da escola, que são enviadas em grupos do WhatsApp. “Tem muita coisa que a gente não consegue explicar para eles”, diz Ana, que tem um filho que está no primeiro ano do Ensino Fundamental, em fase de alfabetização. “É o primeiro ano dele na escola e tem coisas que eu não consigo ensinar, ele não obedece, não quer fazer”.
Aluno da Escola Estadual Ernesto Monte, Carlos Henrique comenta os problemas vivenciados pelos estudantes no ensino à distância. Ele está realizando as atividades apenas com o que é enviado pelos professores, pois tem dificuldade para acessar os outros recursos das aulas. “Ah, está sendo um prazer, mas não estou conseguindo entrar no aplicativo. Tem muita gente entrando e eu não estou conseguindo. Então, estou fazendo pelos professores mesmo”, relata Carlos.
Escola Estadual Ernesto Monte, frequentada por muitos estudantes do Jardim Nicéia, permanece fechada. Foto/Reprodução: Bauru TV
Em relação às aulas virtuais, o acesso à Internet e aos aparelhos tecnológicos se tornou indispensável para as famílias, que precisaram dividir os recursos disponíveis entre os membros.
André Luis Pires, investiu em um computador para que suas filhas conseguissem estudar em casa. “No começo, foi difícil para eles se adaptarem, porque não tinha Internet o tempo todo e eram duas usando o mesmo aparelho. Tive que comprar um outro aparelho”, afirma André.
Apesar das experiências descritas pelos moradores, a gestora da rede municipal de ensino informou que, de acordo com levantamentos percentuais da Secretaria, cerca de 75% dos alunos estão buscando e realizando as atividades remotas oferecidas pelas escolas públicas da cidade.
Para Gisele Costa, mãe de 4 filhos, a volta às aulas não mudaria sua realidade atual diante da pandemia. “Bom, se retornasse esse ano, meus filhos não iriam [para as escolas]. Agora, vamos ver no ano que vem, como estará a situação. Dependendo do jeito que estiver, eles também não vão retornar”, conta a moradora.
As medidas de amparo social aos pais e responsáveis que, devido a ausência das escolas, encontram dificuldade em cuidar de seus filhos e trabalhar, são de responsabilidade da Secretaria do Bem Estar Social (SEBES) de Bauru.
Conforme Miziara, para evitar aglomerações mediante à Covid-19, a SEBES realiza ações de assistência, mas não oferece abrigo às crianças neste momento. “A SEBES tem promovido ações de amparo às famílias muito mais no sentido assistencial do que de poder ficar com a criança para que essa mãe ou esse responsável vá até o seu trabalho”, informa a secretária.
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